Desde o início das manifestações que avançam Brasil a dentro, temos
respirado um vento mais límpido, de contestações, de sonhos, de
esperança, ainda que seja também carregado com o cheiro das bombas de
gás lacrimogêneo que disparam contra nós.
O povo está nas ruas e as flores agora surgem no meio das barricadas, ao lado das chamas que ardem buscando iluminar os caminhos abertos.
Já declarei-me, em um outro texto, como absolutamente contrária aos atos isolados de vandalismo.
No entanto, não posso deixar de perceber que, na onda de lutas que
varreu ontem as capitais do Brasil, vários espaços que encarnam símbolos
do poder foram alvo das manifestações: Congresso Nacional, Assembleia
Legislativa do Rio de Janeiro e Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo.
Não pode ser coincidência; AS RUAS QUESTIONAM OS PODERES INSTITUIDOS E AS INSTITUIÇÕES QUE DIZEM NOS GOVERNAR!
Da presidência da república, passando pelos governadores de vários
estados e chagando aos prefeitos municipais é muito clara; o medo de
perder apoio lhes fez mudar de discurso, de postura. Assumiram
hipocritamente a tática de perder os anéis para não perder os dedos.
Mas é preciso mirar-se nas lutas históricas do povo e da classe
trabalhadora para descobrir os passos que necessitamos dar no caminho da
liberdade e da emancipação do povo.
Na revolução de 52, uma das
mais lindas da América do Sul, na Bolívia, foi a COB que materializou a
unidade dos muitos diferentes em busca de um futuro justo e feliz.
Bem mais recentemente, em Oaxaca, no México, a APPO chegou a cumprir provisoriamente este papel.
E se tivéssemos, de fato, tomado o palácio do governo? E se tivéssemos
efetivamente ocupado a assembleia legislativa? E se o congresso
amanhecesse cheio de pessoas comuns que resolveram fazer dele espaço
aberto?
Que faríamos? Quais seriam nossas palavras de ordem? Quais seriam nossas ações?
É claro que o povo e os trabalhadores forjam, no meio das lutas,
formas, maneiras e métodos de continuar, de avançar. Mas tão pouco
podemos negar que, muitas vezes também fomos derrotados no sonho que vai
muito além da redução das tarifas de ônibus.
Estas são perguntas
que os que lutam devem se fazer. Temos um papel, uma tarefa, uma
responsabilidade de não permitir que percamos o que já conseguimos e
consigamos cada vez mais.
Quando o povo toma as ruas, devemos gritar: Tomemos agora as rédeas de nossos destinos!
Quando o povo toma as rédeas de seus próprios destinos, devemos gritar:
Tomemos agora a força do punho dos que, em outros países também se
rebelam!
Quando o povo tomar o mundo, gritemos: Tomemos os céus de assalto, porque a terra já será de quem nela trabalha!
Helena Silvestre
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